SÃO PAULO (vejam) – Roberto Cabrini era o repórter da Globo quando Senna morreu. Antes, pelo SBT, sem credencial, viajava o mundo para algumas corridas e ficava do lado de fora do autódromo para ouvir o brasileiro. Lembro bem dessa época. Batalhador, competente, muito maluco e repórter puro, Cabrini tem há alguns anos um excelente programa no SBT, o “Conexão Repórter”. Ontem, o tema foi Ayrton Senna e os 20 anos de sua morte.
Ficou muito bom, num contraponto ao que a Globo começou a mostrar domingo passado, no primeiro de quatro episódios para marcar a passagem da data. Não dá para comentar este com muita profundidade, claro, porque 3/4 do material ainda não pudemos ver. Até eu fui entrevistado pelo Ernesto Rodrigues, que vem produzindo esse documentário faz bastante tempo — com padrão global, globa, qualidade cinematográfica de imagens e tal. Duvido inclusive que algo vá para o ar, porque o tom da minha entrevista destoa bastante do que se viu no primeiro episódio epísódio — Luciano Huck falando sobre as saudosas manhãs de domingo, William Williams Bonner falando sobre as saudosas manhãs de domingo, aquele ator gordinho que não sei o nome falando sobre as saudosas manhãs de domingo e todo mundo que existe no mundo falando sobre as saudosas manhãs de domingo; depreendi que o Brasil inteiro deixou de viver nas manhãs de domingo depois que Senna morreu.
No meu depoimento, concentrei-me na construção do mito e no papel da Globo na transformação de Senna de piloto de carros, excepcional, por sinal, em herói nacional — meio fraquinho, no caso, como são todos os heróis fabricados. Ninguém é obrigado a achar que o cara é um herói, é o que sempre pensei. Herói, para mim, é bombeiro. Pode-se, apenas, admirá-lo como atleta. Mas no Brasil, ou se acha que Senna é um herói, ou automaticamente é-se rotulado de detrator da figura. Eu fico, sempre, com o piloto. O cara era bom e dava gosto de ver correr. A mim, basta.
Falei longamente sobre o tema, sabia que não caberia em documentário algum, mas achei importante registrar tais pensamentos. Depois gravaram meu gravador, aquele no qual encontrei uma fita com entrevistas de 1994, e é possível que ele apareça. Numa delas, Ayrton, depois do primeiro teste com a Williams, no Estoril, demonstrava grande preocupação com o carro. Ele sabia a encrenca que estava pegando. Estará de bom tamanho.
Mas voltando ao programa do Cabrini, é óbvio que o tom emocional perpassa o programa todo, lágrimas correm aqui e ali, o encerramento diante da Torre de Pisa ficou meio caricato e incompreensível, caricato, mas, no geral, pelas imagens antigas, algumas inéditas, e pela simpaticíssima participação da Adriane Galisteu com o Uno que ganhou de presente de Senna, além da entrevista com sua primeira esposa, Lilian, cumpriu muito bem sua missão.
Para quem não viu, está aí embaixo, na íntegra.
ATUALIZANDO…
Pena que tiraram o vídeo do ar. Não sei se o site do SBT vai disponibilizar. Enfim…